16.9.11





Lembranças de uma infância feliz rondam a cabeça e relembro a primeira vez em que não pensei só em brincar. Passei a pensar em alguém. Que seria isso? Sinal de amadurecimento? De abandono dos brinquedos pra passar a viver uma vida onde haveria sofrimentos e alegrias?
Havia um menino na escola em que eu estudava. Estudei lá quase a vida inteira. Tenho pouquíssimas lembranças, mas eu lembro o meu primeiro amor. Era um menino magro, igual a mim, do cabelo Chanel e com um nome bonito. Um dos nomes mais bonitos que eu já vi, mas eu teimava em não chamá-lo assim. Não lembro se ele era mais alto ou mais baixo que eu. Mas a mesma estatura poderia ser. Passei um bom tempo apaixonada por ele. Quanto exatamente, eu não lembro.  Recordo que eu adorava vê-lo subir no transporte que nos deixava em casa e fazia questão de sentar perto dele, apesar de nem sempre conseguir vaga. Também dizia que ele era meu melhor amigo.
Era um amor meio secreto. Você sabe. E sabe também que todo mundo percebe. Minha mãe me contou que o porteiro lá da escola falou que haveria casamento e veio me perguntar com quem era. Ela narra que eu caia aos prantos pra tentar disfarçar que eu não estava apaixonada. E até mesmo com vergonha. Eu achava que era errado gostar de alguém, ainda mais naquela idade. Mudei de escola, voltei e fui embora de novo. Falei que gostava dele. Só que eu não lembro. O tempo faz isso, pode apagar coisas boas da vida.
Eu posso não lembrar nada, mas fica na cabeça aquela pessoa, aquela imagem, aquela voz e aquele jeito de falar. E até cabeça inclinada pra frente.
E já grande, eu, vez enquanto, me pegava buscando nas redes sociais o nome dele.  Fracassava.
Só que da mesma forma que o tempo pode fazer a gente esquecer as coisas, ele também pode trazê-las. Eu o reencontrei. E eu estou aqui, escrevendo esse texto que só fala em esquecimento, pra relembrar e mostrar pra ele o quanto ele foi importante na minha vida e o quanto eu fico feliz em reencontrá-lo quase sempre na parada do ônibus. Bom mesmo é rir com você da nossa infância. O tempo me mostrou que paciência é fundamental e que tudo que vai, volta.
Não se perca novamente de mim.

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